quarta-feira, 28 de abril de 2010

Piso alto e teto baixo ou piso baixo e teto alto?

No futebol, quando o time pequeno vence o grande, vale a lógica do David contra Golias, quando uma pedra bem atirada derruba ao chão o mais forte e poderoso. Em outras palavras, é a “zebra”, quando o resultado não é o previsível. Vira e mexe, acontece.

Na disputa eleitoral, quando um candidato que está atrás nas pesquisas cresce a ponto de ultrapassar o favorito, não há “zebra”. O eleitor, quando escolhe, reflete e se vale de critérios objetivos e subjetivos. Por isso, é preciso relativizar a ideia de “candidato grande” versus “candidato pequeno”, como acontece nos campeonatos estaduais. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Sair à frente nas pesquisas não é garantia de sucesso no dia da eleição e a história está repleta de exemplos para ilustrar a afirmação. Em disputas recentes, quanta gente arrancou em disparada e ficou pelo caminho? O próprio presidente Lula, em 1994 e 1998, começou na frente e perdeu. Até chegar, a critério do eleitor, a vez dele, em 2002.

Em 1992, Patrus Ananias enfrentou o “disparado” Maurício Campos e, também, o atual governador de Minas, Aécio Neves. Venceu os dois. Conquistou a cidade e a prefeitura de Belo Horizonte. Na eleição seguinte, o PT apostou no candidato que tinha mais pontos na pesquisa e não conseguiu se entender com a população, que nem pensava em mudança, mas escolheu outro. Como se o eleitor dissesse: “quero a continuidade, mas é com este (Célio de Castro) e não com esse (Virgílio Guimarães). E ficou na história a “arrancada” do Doutor Beagá, que começou com 1% de intenção de voto.

A lógica, em disputa eleitoral, está mais para a construção civil do que para a ideia de “zebra” do futebol. Há candidatos que têm piso alto, mas um teto baixo. Quer dizer, arrancam com muitos números quantitativos, mas não resistem à análise qualitativa e à comparação do eleitor. Outros, ao contrário, têm piso baixo e teto alto. Quer dizer, começa de baixo, mas chega mais longe, se bem “descoberto” pelo eleitor.

E o cidadão, ao contrário do que muita gente imagina, observa, avalia e reflete antes de escolher. Sem entrar no mérito de acerto ou erro na escolha, ou na aposta, o fundamental é que o eleitor não abre mão do seu direito de decidir. É por isso que, em Minas, ainda há discussão sobre quem seria o melhor candidato porque, se valesse apenas o critério quantitativo, a oposição ao governador Aécio Neves deveria apoiar o ex-ministro Hélio Costa e ponto final. Ou não é dele a dianteira folgada nas pesquisas quantitativas?

Também, no início do processo, não era difícil imaginar que Antônio Anastasia cresceria muito nas pesquisas, graças à superexposição de uma imagem desenhada com esmero: é apresentado como o “professor”, o homem que sabe administrar, corresponsável pela bem vista administração de Aécio Neves. Se o eleitor parece satisfeito com o governo estadual, se não experimenta um sentimento de mudança, por que não votar num vice-governador tão bem recomendado e qualificado?

Essa história do crescimento de Anastasia nas pesquisas não é semelhante à de Dilma Rousseff, a escolhida de Lula? E muita gente não fica sempre a repetir que Patrus Ananias poderia ter sido uma boa alternativa para suceder o presidente que vem conseguindo quase uma unanimidade perante o eleitorado?

Pesquisas qualitativas, quando bem avaliadas e melhor utilizadas, são capazes de apontar quem tem teto mais alto, independente do piso, ou do ponto de partida. Então, é preciso cautela ao analisar apenas números. E aí a metáfora com o futebol é perfeitamente válida: quem vê apenas os números finais de uma pesquisa tem a análise prejudicada, como aquele torcedor que, de manhã, pergunta quanto foi o jogo. Ele fica informado sobre o resultado, mas nada sabe sobre o que aconteceu ao longo dos 90 minutos. Nada sobre furadas, bolas na trave, pênaltis não marcados, expulsões justas ou injustas. Ou seja, conhecer só o placar final não é suficiente para acompanhar um campeonato.

O PT vive essa situação em Minas. Com dois bons candidatos na disputa interna – Patrus Ananias e Fernando Pimentel - e com chances claras de chegar ao Palácio da Liberdade, não pode cometer a ingenuidade de agarrar-se apenas aos números finais de pesquisas quantitativas para fazer uma escolha. Esses números podem indicar o piso de um candidato, como podem indicar o teto, mas o espaço para movimentação entre o piso e o teto precisa ser entendido qualitativamente.

Várias perguntas estão colocadas para o filiado que vai fazer a escolha interna e, posteriormente, para o eleitor que dará a palavra final em outubro próximo.

- Há um desejo de mudança instalado em Minas, facilitando o trabalho da oposição, ou é possível supor que o candidato indicado por um governador tão bem avaliado tem facilidade para crescer e condições de vencer a disputa?

- É de se esperar que o governador Antônio Anastasia, no exercício do cargo, cresça mais nas pesquisas, inclusive por contar com o tradicional e poderoso “partido do palácio da liberdade”?

Ele será capaz de ultrapassar todos os demais candidatos colocados na disputa ou haverá algum em melhores condições para enfrentá-lo?

-Se tiver que escolher entre dois candidatos vistos como bons administradores, o eleitor tenderia a deixar as coisas como estão, votando na situação, ou apostaria na oposição?

- Para optar pela mudança, que outros atributos o candidato de oposição deve agregar? Nesse caso, qual seria o postulante capaz de oferecer um perfil mais amplo, para justificar a “aposta” do eleitor?

Outras perguntas poderiam ainda ser colocadas na pauta. O importante é entender que há mais coisas no ar do que os aviões de carreira, como diria Aparício Torelly. Ficar dependurado apenas em números nessa fase da disputa é recusar-se a ver que, para o bolo crescer, a receita precisa de muitos outros ingredientes.

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Maurício Lara é jornalista e administrador com experiência profissional em ensino universitário, campanhas eleitorais e comunicação em instituições públicas e privadas. Tem quatro livros publicados, entre eles “Campanha de Rua” (1994) e “As Sete Portas da Comunicação Pública” (2003). Atualmente é colunista e jornalista especial do “Estado de Minas”.

ATENÇÃO
FILIADOS DO PT DE LEOPOLDINA
DOMINGO DIA 02 DE MAIO 09:00h
LÁ NO SINDICATO DOS METALURGICOS
VENHA VOTAR NO PATRUS PARA GOVERNADOR.

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