sexta-feira, 19 de abril de 2013

UMA BIOGRAFIA QUE RECEBI DE PRESENTE

Elizabeth de Almeida Silva, 
entre a utopia e a realidade 

Hon-Fu ,um Filosofo chinês nascido no século V a.C dizia sempre aos seus alunos ,que as pessoas se tornam especiais nos lugares e dos corações onde menos imaginam .Uma vez que não somos amados por aqueles que desejamos ,mas pelos que nos valorizam.
Este pensamento budista milenar que sobreviveu a evolução da própria filosofia oriental sintetiza em sua profundidade, a história de uma amiga que a muito sinto a necessidade de homenageá-la.

Elisabeth de Almeida, mais conhecida popularmente como irmã Bethe é natural do município de Leopoldina, Minas Gerais, mas viveu um período de sua vida em São Paulo . Nesta cidade casou-se teve dois filhos,  trabalhou por um tempo como bancária e filiou –se ao partido dos Trabalhadores .
Muito sensível ao sofrimento alheio, Bethe desde a juventude participou de projetos sociais e muitas vezes teve que deixar os filhos aos cuidados de amigos e parentes para cumprir a sua jornada como voluntária .
As suas criticas as desigualdades sociais motivaram-na a cursar Direito e ser mais atuante no partido. 
Mas as decepções que sofreu ao longo de sua jornada, seja como o seu marido e os seus companheiros de luta, os camaradas, levaram-na a buscar na fé, forças para recomeçar .

A sua persistência em amparar e acolher o outro contribuíram para que ela alcançasse o caminho mais bonito, que no Budismo denominamos como o estado holístico .É uma virtude que poucos, pouquíssimas pessoas desenvolvem ,a compreensão e amor ao próximo de forma incondicional .

A educação prisional é o elemento holístico na vida desta guerreira,  que durante anos reivindicou as comissões de Direitos Humanos, aos representantes dos três poderes, um projeto educacional na unidade de Cataguases.

Neste local, suportando as adversidades politicas e ambientais impostas por aqueles que não percebem que juridicamente, mesmo acautelado, o preso possui direitos, ela plantou as primeiras sementes de uma educação humanística.
Atualmente, o projeto encontra –se estruturado sendo administrado pela Secretaria de educação mineira, mas a escola ficou sem cor, pois irmã Bethe nos deixou e sua presença alegre e divertida irradiava na aura espiritual com vários feixe de cores.

Não há um cartaz na escola que mencione a sua jornada ,mas no meu coração e dos alunos que sempre hão de amá-la , ela estará bem guardada no centro da nossa memoria permanente ,pois suas lembranças fazem nos acreditar, que o Brasil será um dia a nação arco íris, como Mandela desejou transformar a África do Sul.

Atualmente, Elisabeth continua na educação prisional na cidade de Leopoldina e atuando como tutora presencial deste curso,Multimeios didáticos pelo IFET de Juiz de fora entre outras atividades.

Luciana Nazar

Luciana obrigada pela sua sensibilidade e grande carinho que sempre demonstrou  com os projetos sociais e com seus colegas de trabalho.
Voce é muito especial aprendi a amar ainda mais a educação e trilhar novos caminhos te vendo caminhar, voce é daquelas mestras que aluno jamais esquece pela sua coerencia e senso de amor e justiça. 
Estou publicando porque fiquei encantada, não sabia que voce sabia tanto de mim. 
Isso aumenta ainda mais a minha responsabilidade.  
Deus seja louvado pela sua vida.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Nota de Esclarecimento e Repúdio Quanto a Suposta Maldição sobre Negros e Africanos

A Aliança Evangélica vem a público para repudiar o uso inadequado das Escrituras Sagradas, a Bíblia, juntamente com as interpretações e afirmações daí decorrentes, especificamente as feitas quanto a supostas maldições existentes sobre africanos e negros.

Afirmações desta natureza são fruto de leitura mal feita de parágrafos bíblicos, tomados fora do seu contexto literário e teológico, que acabam por colaborar com os interesses de justificar pensamentos e práticas abusivas, contrárias ao espírito da Palavra de Deus, cujo foco está na Justiça, na Libertação e na promoção da Vida e Dignidade Humana.
O texto em questão, que tem servido de pretexto para declarações insustentáveis, tanto em púlpitos, redes sociais, na tribuna do Parlamento e até protocoladas junto à Justiça Federal, sob o manto da imunidade parlamentar, versa sobre o significado da passagem bíblica encontrada no Livro de Gênesis capítulo 9, versos 20 a 27.
Nessa passagem Noé, embriagado, despe-se e assim é surpreendido por seu filho Cam que, ao invés de manter a discrição e o respeito devidos ao pai, o anuncia aos seus irmãos; estes se recusam a ver o pai nesse estado e, sem olhar para ele, cobrem-no com uma manta. Desperto Noé, ao saber da postura de seu filho Cam, amaldiçoa seu neto Canaã, filho de Cam, destinando-lhe a servidão.
O equívoco em questão dá a entender que a maldição proferida pelo patriarca bíblico contra Canaã, seu neto e filho de Cam, atinge os seres humanos de tez negra que habitaram, originariamente, o continente africano, o que explicaria os vários infortúnios em sua história passada e presente, culminando no longo período em que foram feitos escravos no Ocidente; e que o ato de Cam em ver a nudez de seu pai, mais do que um desrespeito, indica um ato de violação sexual por parte de Cam.
Queremos salientar enfática e categoricamente:
Primeiro, Cam teve outros filhos: Cuxe, Mizraim e Pute, e somente Canaã foi amaldiçoado. 
Segundo, embora o comportamento inadequado descrito no texto bíblico tenha sido o de Cam, filho de Noé, o objeto específico da maldição foi Canaã, o neto de Noé. [Segundo Orígines, um dos pais da Igreja, do sec. III, Canaã foi quem avisou seu pai sobre a situação do seu avô, publicando o que deveria ter mantido sob reserva]. Amaldiçoar, no senso bíblico,  não determina a história, mas descreve a consequência da quebra dum princípio estabelecido pelo ato desrespeitoso; portanto, significa a percepção de efeitos e desdobramentos de um comportamento específico. Ou seja, a postura de Cam e de seu filho Canaã estabelece um padrão comportamental que resultaria numa situação de inversão paradoxal, onde alguns dentre os descendentes de Canaã se tornariam dominados e serviçais dos seus irmãos.
Terceiro, Canaã, neto de Noé, foi habitar e estabeleceu-se na região a oeste do rio Jordão, até a costa do Mediterrâneo (sudoeste da Mesopotâmia), onde os descendentes de Canaã desenvolveram práticas absurdas, inclusive o sacrifício de crianças, e não no continente africano!
Quarto, é de entendimento entre os teólogos especialistas no Velho Testamento que a maldição profética de Noé sobre Canaã foi cumprida quando da conquista da região povoada pelos descendentes de Canaã, os cananeus, por parte dos filhos de Jacó, sob o comando de Josué há mais de três milênios.
Quinto, a maldição proferida sobre Canaã pelo seu avô Noé significou uma percepção e discernimento sobre uma tendência comportamental de um grupo humano, antevendo o resultado de uma corrupção cultural e civilizatória específica e localizada, e em consequente servidão, e de modo nenhum faz referência à cor da sua pele.
Sexto, não há nada, absolutamente nada, nem neste texto bíblico em foco nem na Escritura como um todo, que indique qualquer maldição sobre negros e africanos, e muito menos algo que justifique a escravidão.
Sétimo, o texto bíblico precisa ser lido em seu contexto imediato e considerado à luz da totalidade da Escritura, como saudáveis práticas de interpretação bíblica nos ensinam. De acordo com o próprio capítulo 9 de Gênesis, verso 1 e seguintes, é indicado que o desejo de Deus e sua promessa visam abençoar, dar vida, alimento e todo o necessário para o desenvolvimento de todos os descendentes de Noé, seus filhos e de toda a família humana. A declaração divina de abençoar a Noé e seus descendentes é firme e abrangente, e não pode ser contestada ou reduzida pela declaração relativa e descritiva de Noé a respeito de seu neto.
Oitavo, Deus reafirma o desejo de abençoar a toda a humanidade, a todas as famílias da terra, raças e etnias no episódio descrito na sequência da narrativa bíblica, quando da vocação de Abrão (Genesis 12), intenção que tem seu ápice e culminância na pessoa, vida e ministério de Jesus e continuado em curso na Igreja. Em Cristo, toda maldição é destruída e uma Nova Criação é estabelecida, sendo chamados a participar deste novo concerto todas as nações, etnias, raças, povos e famílias de todas as terras e da Terra toda, sendo revogadas assim todas as maldições e oferecida salvação a todas as pessoas.
Nono, a alegada violação sexual de Cam a Noé não é sustentada pelo texto. A citação do texto da lei de Moisés que chama a violação de descobrir a nudez não dá suporte a tal alegação, uma vez que os verbos usados são diferentes na raiz e no significado: no primeiro caso, trata-se de observação a distância; e, no segundo caso, trata-se de ato deliberado contra outrem.
Décimo, toda vez, na história, que esse texto foi aventado a partir dessa hipótese vulgar, tratou-se de ato de má fé a serviço de interesses escusos, seja quando usado para justificar a escravidão de ameríndios no Brasil colonial, seja quando usado para justificar a escravidão dos africanos de tez negra, seja quando utilizado para a elaboração de sistemas legais de segregação social como o que ocorreu nos Estados Unidos, seja quando usado para justificar a política nefasta e mundialmente condenada do apartheid.
Tal leitura equivocada da Escritura corre o risco de ser vista como suspeita de esconder outros interesses de natureza política, econômica e de dominação social e religiosa. Não há nenhum apoio bíblico para defender qualquer maldição sobre negros ou africanos, que fazem parte, igualmente e em conjunto, da única família humana.
Lamentamos o equívoco provocado por tal vulgarização do texto bíblico, bem como a banalização quanto ao conteúdo de nossa fé, assim como repudiamos qualquer tentativa, intencional ou não, de uso inadequado do texto para quaisquer fins que não o de promover a vida, a libertação e a justiça, como a própria Escritura expressa muito bem.
Brasil, 07 de abril de 2013
Aliança Cristã Evangélica Brasileira

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Já leu a sua Bíblia hoje?

Um discípulo chegou para seu mestre e perguntou:

- Mestre, por que devemos ler e decorar a Bíblia se nós não conseguimos
memorizar tudo e com o tempo acabamos esquecendo? Somos obrigados a constantemente decorar de novo o que já esquecemos.

O mestre não respondeu imediatamente ao seu discípulo.
Ele ficou olhando para o horizonte por alguns minutos e depois ordenou ao discípulo:

- Pegue aquele cesto de junco, desça até o riacho, encha o cesto de água e traga até aqui.
O discípulo olhou para o cesto sujo e achou muito estranha a ordem do
mestre, mas, mesmo assim, obedeceu. Pegou o cesto sujo, desceu os cem
degraus da escadaria do mosteiro até o riacho, encheu o cesto de água e começou a subir de volta.
Como o cesto era todo cheio de furos, a água foi escorrendo e quando chegou até o mestre já não restava nada. O mestre perguntou-lhe:

- Então, meu filho, o que você aprendeu?
O discípulo olhou para o cesto vazio e disse, jocosamente:
- Aprendi que cesto de junco não segura água.
O mestre ordenou-lhe que repetisse o processo de novo.
Quando o discípulo voltou com o cesto vazio novamente, o mestre
perguntou-lhe:

- Então, meu filho, e agora, o que você aprendeu?
O discípulo novamente respondeu com sarcasmo:

- Que cesto furado não segura água.
O mestre, então, continuou ordenando que o discípulo repetisse a tarefa.
Depois da décima vez, o discípulo estava desesperadamente exausto de tanto descer e subir as escadarias.
Porém, quando o mestre lhe perguntou de novo:

- Então, meu filho, o que você aprendeu?
O discípulo, olhando para dentro do cesto, percebeu admirado:

- O cesto está limpo! Apesar de não segurar a água, a repetição
constante de encher o cesto acabou por lavá-lo e deixá-lo limpo.
O mestre, por fim, concluiu:
- Não importa que você não consiga decorar todas as passagens da

Bíblia que você lê, o que importa na verdade, é que através deste processo a sua mente e a sua vida ficam limpos diante de Deus.
Já leu a sua Bíblia hoje?
Não deixe de ler a Palavra de Deus!!!

"Faze-me saber os Teus caminhos, Senhor, ensina-me as tuas veredas..."
Salmos 25:4

Fonte Site: Gotas de Bençãos

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A cor dos homicídios no Brasil

Entre 2002 e 2010, o país apresentou uma inquietante tendência de aumento da distinção entre negros e brancos nos índices de mortalidade. Se os dados globais de homicídio mudaram pouco nesse período, em torno de 27 para cada 100 mil habitantes, foi em razão da queda dos homicídios brancos e crescimento dos negros
por Julio Jacobo Waiselfisz
O Brasil está cada dia mais longe de manifestar respeito a um direito essencial, que é o direito à vida e à segurança sem distinção de raça ou cor, proclamado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos.

O Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde, construído com base nos padrões internacionais da Organização Mundial da Saúde, é a única fonte que temos disponível, até os dias de hoje, que verifica em nível nacional o quesito raça/cor das vítimas de homicídio. Esse item só foi incorporado em 1996, mas nos primeiros anos de vigência seu preenchimento foi muito deficitário, melhorando de forma progressiva. Assim, a partir de 2002, quando a identificação da raça/cor já estava na casa de 92%, pudemos considerar os dados suficientemente confiáveis para iniciar as análises sobre o tema. O último dado divulgado, até o momento, corresponde ao ano de 2010.

Segundo os registros desse sistema, entre 2002 e 2010 morreram assassinados no país 272.422 cidadãos negros, o que dá uma média de 30.269 assassinatos por ano. Só em 2010 foram 34.983. Na cruenta Guerra do Iraque, as estimativas mais elevadas indicam que de 2003 até fins de 2009 morreram 110 mil pessoas, incluindo civis, o que significa 15,7 mil por ano. No Brasil, país que não aparenta ter conflitos étnicos, religiosos, de fronteiras, raciais ou políticos, morre assassinado o dobro de cidadãos negros todos os anos e mais do triplo – 52.260 em 2010 – de seus habitantes de todas as raças e cores.

Embora os números sejam preocupantes, inquieta mais ainda a tendência crescente dessa mortalidade discriminante. Se os índices globais de homicídio do país nesse período mudaram pouco, em torno de 27 homicídios para 100 mil habitantes, foi em razão de uma associação inaceitável de queda dos homicídios de brancos e crescimento dos homicídios de negros:

• Considerando o conjunto da população, entre 2002 e 2010 o número absoluto de vítimas brancas de homicídio caiu de 18.867 para 14.047, queda de 25,5%. Já as vítimas negras cresceram de 26.952 para 34.983, incremento de 29,8%.

• Com isso, o índice de vitimização negra na população total, que em 2002 era 65,4% – morriam assassinados, proporcionalmente, 65,4% mais negros que brancos –, em 2010 pulou para 132,3%.

• As taxas de vítimas entre os jovens negros – 15 a 29 anos de idade – duplicam, ou mais, os da população total. Assim, em 2010, se a taxa de homicídio da população negra foi de 36 em 100 mil, a dos jovens negros foi de 72 para 100 mil.

• Com isso, a vitimização de jovens negros, que em 2002 era de 71,7%, em 2010 pulou para 153,9% – morrem, proporcionalmente, duas vezes e meia mais jovens negros que brancos.

• Os dados também apontam que essa vitimização negra está crescendo de forma rápida e preocupante por suas implicações sociais e políticas.
Esse é o panorama nacional, a média do país. Mas, se olharmos para as unidades da federação e, mais ainda, para os municípios, veremos situações extremas que deveriam ser fonte de séria atenção:

• Seis estados apresentaram, em 2010, taxas de homicídio acima de 50 para 100 mil negros: Alagoas, Espírito Santo, Paraíba, Pará, Pernambuco e Distrito Federal.

• Oito unidades ultrapassaram a marca dos 100 homicídios para 100 mil jovens negros: Alagoas, Espírito Santo, Paraíba, Pernambuco, Mato Grosso, Distrito Federal, Bahia e Pará.

• Na Paraíba, em 2010, foram registrados 47 homicídios brancos e 1.335 homicídios negros. Considerando as respectivas populações, a taxa de homicídios brancos foi de 3,1 para 100 mil brancos contra 60,5 para 100 mil negros. Dessa forma, o índice de vitimização negra foi de 1.824: para cada branco morreram, proporcionalmente, dezenove negros.

• Diversos especialistas estabelecem que níveis acima de 10 homicídios para 100 mil habitantes caracterizam situação de violência epidêmica. Todos os estados brasileiros superam esse patamar. As unidades com as menores taxas de homicídios negros em 2010, Santa Catarina e Piauí, ostentavam, respectivamente, 13,3 e 15 homicídios para 100 mil negros.

• A heterogeneidade de situações torna-se ainda maior quando desagregamos os dados para os municípios do país, com casos extremos como o de Ananindeua, no Pará, onde em 2010 foram registrados 33 homicídios brancos e 705 negros, o que origina taxas de 29,3 homicídios para 100 mil brancos e 198,8 homicídios para 100 mil negros. No outro extremo, 2.936 municípios – 52,8% do total nacional – não registraram nenhum homicídio negro em 2010.

• Não muito diferente é o panorama de algumas capitais do país, como João Pessoa (PB), onde, em 2010, foram assassinados 16 brancos e 545 negros, taxas de 4,9 homicídios brancos e 140,7 negros. Ou Maceió (AL), com 17 vítimas brancas e 774 negras.
Dois fatores devem ser mencionados para a compreensão da situação. Em primeiro lugar: a crescente privatização do aparelho de segurança. Como já ocorrido com outros serviços básicos, como a saúde, a educação e, mais recentemente, a previdência social, o Estado vai se limitar a oferecer, para o conjunto da população, um mínimo – e muitas vezes nem isso – de acesso aos serviços e benefícios sociais considerados básicos. Para os setores com melhor condição financeira, serviços privados de melhor qualidade. Com a segurança vem ocorrendo esse processo de forma acelerada nos últimos anos. A pesquisa domiciliar do IBGE de 2011 é clara sobre as possibilidades diferenciais de acesso a serviços privados de melhor qualidade: as famílias negras tinham uma renda média de R$ 1.938,19, e as brancas, de R$ 3.183,07, isto é, 64,2% a mais.
Em segundo lugar, e reforçando o anterior, as ações de segurança pública distribuem-se de forma extremamente desigual nas diversas áreas e espaços geográficos, priorizando sua visibilidade política e seu impacto na opinião pública e, principalmente, na mídia. Assim, em geral áreas mais abastadas, de população prioritariamente branca, ostentam os benefícios de uma dupla segurança, a pública e a privada, enquanto as áreas periféricas, de composição majoritariamente negra, nenhuma das duas.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, pedra fundamental de nossa moderna convivência, estabelece que: “Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal [...] sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição”. Temos ainda um longo caminho para tornar realidade esse direito fundamental proclamado em 1948.

Julio Jacobo Waiselfisz
Coordenador da Área de Estudos da Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) e pesquisador do Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela).


terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Presos terão direito a 90 mil vagas em cursos técnicos até 2014

Acordo entre pastas da Educação e Justiça foi assinado nesta quinta (7).  Objetivo é a ressocialização, disse o ministro Aloizio Mercadante.

O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) vai destinar 90 mil vagas para pessoas privadas de liberdade que cumprem pena nos regimes aberto, semiaberto, fechado e de prisões provisórias, além daquelas que já cumpriram as penas previstas. O acordo foi assinado na manhã desta quinta-feira (7), em Brasília, pelos ministros da Educação, Aloizio Mercadante, e da Justiça, José Eduardo Cardozo.
A previsão é ofertar 35 mil neste ano e chegar ao total de 90 mil até 2014 para cursos técnicos e de formação continuada. O investimento será de R$ 180 milhões.
Segundo Mercadante, há interesse da população carcerária em estudar, já que 26 mil presos fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no ano passado. "63% dos presos não têm ensino fundamental completo. Vamos dar ênfase ao ensino tecnológico porque abre mais perspectiva de ressocialização e chance de encontrar um emprego."


As vagas serão oferecidas segundo encaminhamento feito pelo Ministério da Justiça. Não haverá cotas no programa. "Mas se você entender cota como pobre e negro da escola pública, é 100%", declarou o ministro da Educação.
De acordo com o Ministério da Justiça, a pasta já elaborou nota técnica para que a cada doze horas estudadas haja o abatimento de um dia de pena. "Isso implica na redução de custos para o estado”, disse o diretor do Departamento Penitenciário Nacional, Augusto Eduardo de Souza Rossini.
“Estamos buscando estimular um caminho de ressocialização dos presos. O nível de reincidência do crime e extremamente elevado no Brasil. A formação tecnológica profissional traz oportunidades”, disse Mercadante.
O ministro Aloízio Mercadante informou que será necessário construir 760 salas de aula dentro dos presídios. Atualmente, há mais de 500 mil presos no Brasil, sendo 94% em presídios masculino. Há 1340 presídios masculinos e 80 femininos.Do total de presos, 75 mil estão em regime semiaberto.  Mais da metade são jovens entre 18 e 30 anos.

Bolsa para filhos de policiais
O ministro também informou que o governo está formulando projeto para garantir a conclusão dos estudos de filhos de policiais e agentes penitenciários mortos em serviço, com acesso irrestrito ao Prouni. Segundo Mercadante, ainda estão sendo levantados dados sobre a quantidade de pessoas que deverão ser beneficiadas e se haverá necessidade de aprovação de projetos no legislativo.

“Temos obrigação de garantir bolsa a todos os filhos de policiais brasileiros assasinados de forma covarde. Os filhos vão estudar até quando quiserem e o Estado vai garantir”, afirmou Mercadante.

Nosso desejo é de que este brilhante e tão esperado acordo, saia do papel e ganhe vida!
Ha! como ansiamos por esta iniciativa, VIVA!

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Tortura como cisão de corpo e mente

Tortura como cisão de corpo e mente

Leonardo Boff*
Com o funcionamento da Comissão Memória e Verdade vem à tona com toda a sua barbárie a tortura como método sistemático do Estado ditatorial militar de enfrentar seus opositores. Já se estudaram detalhadamente os processos de desumanização do torturado e também do torturador. Este precisa reprimir sua própria humanidade para praticar seu ato desumano. Não sem razão que muitos torturadores acabaram se suicidando por não aguentarem tanta perversidade.

Quero, entretanto, destacar um ponto nem sempre suscitado na discussão que foi muito bem analisado pelos psicanalistas, especialmente na Alemanha pós-nazista e entre nós por Hélio Peregrino, já falecido. O mais terrível da tortura política é o fato de que ela obriga o torturado a lutar contra si mesmo. A tortura cinde a pessoa ao meio. Coloca a mente contra o corpo. A mente quer ser fiel à causa dos companheiros, não quer, de forma alguma, entregá-los. O corpo, submetido à extrema intimidação e aviltamento, para ver-se livre da tortura, tende a falar e assim a fazer a vontade do torturador. Essa é a cisão.
Mas há um ponto a se ressaltar: a pessoa torturada quando levada ao pânico e ao pavor pode ser vítima de mecanismos inconscientes de identificação com o agressor. Ao identificar-se com ele, consegue psicologicamente exorcizar, por um momento, o pânico e assim sobreviver.
O torturado, que sucumbiu a esta desesperada contingência de autodefesa, incorpora sinistramente a figura do torturador. O torturador consegue abrir uma brecha na alma do torturado, alcança penetrar naquela última intimidade, lá onde moram os segredos mais sagrados e onde a pessoa alimenta seu mistério. Ultrapassa, portanto, os umbrais derradeiros da profundidade humana, para possuir a vítima e fazê-la um outro, alguém que acaba reconhecendo ser de fato subversivo, inimigo da pátria e da humanidade, um traidor da religião, um amaldiçoado por Deus, um excomungado da Igreja, alguém da parte do demônio.

Os torturadores Albernaz e Fleury eram peritos nesta perversidade. Fleury disse diretamente ao frei Tito, como aparece no terrificante filme de Ratton Batismo de sangue, baseado no livro de Frei Betto com o mesmo nome, que deixaria nele marcas que jamais esqueceria. Efetivamente, conseguiu cindir-lhe a mente e o corpo e penetrar na sua mais profunda intimidade a ponto de ele, no exílio na França, sentir a todo momento a presença de seu algoz. Deixou um bilhete antes de tirar-se a vida: "Prefiro tirar minha vida a morrer".

Este tipo de tortura é especialmente perverso porque faz da desumanização o eixo de uma prática sistemática de agentes do Estado. Se a categoria anti-Cristo ainda significa alguma coisa, ela deve
ser configurada dentro deste quadro infernal. Trata-se da completa subversão do humano e de suas referências sagradas. É seguramente um dos maiores crimes de lesa-humanidade que possam existir. Tais perversidades não podem cair sob anistia nenhuma. Os torturadores carregam em sua alma e em sua mente-testa o estigma de Caim. Por onde andarem, a vida os acusará porque violaram a sua suprema sacralidade.

E há ainda a tortura dos desparecidos, crucificando seus entes queridos. Por exemplo, houve uma guerrilha do Araguaia, até hoje não reconhecida totalmente pelos militares. Lá se cometeram todos os excessos: cortaram a cabeça e os dedos dos guerrilheiros mortos e os enviavam a Brasília para reconhecimento. Sumiram com seus cadáveres. Fizeram desparecer as vidas e pretendem agora apagar as mortes. E as famílias carregam um pesadelo que não tem fim. Cada campainha que toca em casa funciona como um vento a soprar as cinzas e reanimar a brasa da esperança, seguida de amarga decepção: "Será que não é ele que está chegando?" Outros dizem: "Não mudemos de casa porque ele pode ainda chegar... e se nós não estivermos mais aqui para o abraço, o beijo, as lágrimas...que será dele?"

Os torturadores e seus mandantes estão aí, agora ameaçados pelo esculacho do movimento Levante Popular da Juventude, que não lhes deixa a consciência descansar. A estes, quisera eu, como teólogo, perseguido, mas não torturado, gritar-lhes ao ouvido o clamor de Jesus Cristo: "Da vossa geração será pedida a conta do sangue de todos os profetas, dos perseguidos e dos torturados, sangue derramado desde o princípio do mundo. Sim, vos asseguro que vos será pedida a conta deste sangue" (Lc 11,50-51).

Poderá haver anistia pactuada dos homens. Mas não haverá anistia perante a consciência e perante aquele que se apresentou sob a figura de um preso, torturado, executado na Cruz, Jesus, o Nazareno, feito Juiz Supremo, que julgará especialmente aqueles que violaram a humanidade mínima. Chegará o dia, supremo dia, em que todos os desparecidos aparecerão. Eles virão, como diz o Apocalipse, da grande tribulação da história. Sim, eles voltarão junto com o Vivente. E então não haverá mais espera nem palpitação dos corações. O Vivente, também um dia torturado, anulará todas as distâncias, enxugará todas as lágrimas e inaugurará o Reino dos sacrificados e desaparecidos, agora vivos, libertos e encontrados. Então será definitivamente verdadeiro:Nunca mais uma ditadura. Nunca mais desaparecidos. Nunca mais a tortura.
* Leonardo Boff, teólogo e filósofo, é escritor. -lboff@leonardoboff.com