sábado, 13 de fevereiro de 2010

Cinco anos sem a Ir. Doroty



Ir. Dorothy, Exemplo de Vida religiosa e Profetismo

“Não desanimou, não se calou, não se acovardou, não morreu. Sim, Ir. Dorothy não morreu, continua viva em cada um que não deixa de lutar pelo ideal que sempre pautou sua vida, estar ao lado dos que não têm voz nem vez”, afirma Pe. Carlos Augusto Azevedo da Silva, Presbítero incardinado na Arquidiocese de Belém e pároco de Sta. Maria Goretti, no bairro do Guamá em artigo no blog Comitê Dorothy, 10-02-2010.
Eis o artigo.


Neste 12 de fevereiro de 2010, celebramos cinco anos do brutal extermínio de Ir. Dorothy Stang, missionária norte-americana que atuava em Anapú – PA. No entanto, mesmo após cinco anos de morte, Dorothy vive! A tentativa de calar aquela que era a voz forte dos camponeses, que não tinham a quem recorrer diante de tanta injustiça e humilhação que vinham sofrendo durante anos, se transformou grande fracasso. Fracassaram os matadores, mandantes, grileiros, madeireiros, grande proprietários de terra, influentes políticos, todos que tentaram calar Ir. Dorothy fracassaram, pois sua voz continua a ressoar, agora de forma mais forte e mais clara, multiplicando-se a cada dia através da voz de homens e mulheres de boa vontade que ao conhecer a luta daquele povo que Dorothy tanto amava, engrossam a fileira dos que lutam por um Pará onde reinam a justiça e a paz.


O martírio de Ir. Dorothy é fruto de uma vida doada pelo anúncio do Evangelho. Anunciar o Amor e denunciar a Injustiça que gera a morte. Essa é a missão dos profetas do nosso tempo, e assim foi a vida de Ir. Dorothy. A vida religiosa fundamenta-se no próprio Cristo, que em sua vida não se cansou de anunciar o Reino e denunciar os erros de uma religião opressiva. O Reino anunciado e inaugurado por Cristo Jesus não se tratava de uma utopia, de um sonho, mas era realidade já vivenciada por aqueles que com ele conviveram.


Esse exemplo que nos vem do Senhor era vivido em toda sua intensidade e sinceridade na vida de Dorothy. No seu jeito simples e acolhedor vivendo pobre com os pobres, partilhando da vida do povo sofrido da Amazônia, porém dando-lhes oportunidade de vislumbrar um novo horizonte, onde o desenvolvimento não se dá através da destruição da floresta, mas da convivência do homem com a mata e com tudo o que ela pode nos oferecer enquanto ainda está de pé. Essa idéia mexeu com todos aqueles que sempre defenderam a bandeira da destruição para o progresso. Mexeu com ricos e poderosos, no entanto, o pior de tudo para eles foi perceber que o que ela defendia era possível, uma forma de manejo sustentável da floresta, que eles viam como obstáculo para o desenvolvimento da região.


Foram grandes os obstáculos enfrentados por ela para dar voz ao povo da floresta, mas ela conseguiu e ainda consegue. Não desanimou, não se calou, não se acovardou, não morreu. Sim, Ir. Dorothy não morreu, continua viva em cada um que não deixa de lutar pelo ideal que sempre pautou sua vida, estar ao lado dos que não têm voz nem vez. Continua viva cada vez que fazemos o mundo lançar um olhar sobre o povo amazônida, o povo simples da floresta, que viva da floresta viva.


A vida religiosa deve ser pautada na vivência concreta do Evangelho, assumindo assim, uma postura profética diante da sociedade em que vivemos, não se calando diante das injustiças e buscando meios eficazes de fazer valer o direito fundamental da pessoa humana, que é o direito à vida. “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância”. A vida religiosa tem seu fundamento no próprio Cristo que veio dar vida ao mundo que jaz na sombra do pecado e da morte. Através do testemunho concreto de sua vida o religioso deve transparecer o rosto do próprio Cristo, que é vida para o seu povo.


O profetismo entra então, como conseqüência imediata do viver em Cristo. É impossível seguir Cristo e se acovardar diante da injustiça. O seguimento gera uma configuração ao mestre. Somos Configurados a Ele e Dele aurimos a força necessária para anunciar o Reino de Deus e as injustiças do mundo presente. Assim, o profeta é aquele que vive no mundo, mas não se permite escravizar por ele. Não se deixa prender nem iludir. Esse exemplo podemos ver de forma clara no testemunho da vida de Ir. Dorothy, que agora o mundo começa a conhecer. Por isso, um agricultor exclamou com grande certeza no dia de seu sepultamento: “Dorothy não foi sepultada, foi plantada”. A exemplo do grão de trigo que para dar fruto tem que cair no chão e morrer, assim o mártir-profeta, não abre mão de dar sua vida pelo Reino de Deus.


Hoje, após cinco anos, já vemos os frutos que brotam da semente Dorothy que foi plantada na terra fértil de Anapú. É o povo que não se cansa de lutar, é o mundo que se interessa por esse povo, é a vos do profeta que não pode ser calada, é a voz de Dorothy que continua a ressoar pelo mundo: “Cada dia é um desafio, nós temos que conscientizar as pessoas que tudo que precisamos é amar e cuidar da floresta”.


Assumamos nossos postos na frente de combate, sejamos também nós capazes de fazer com que a voz de dorothy não se cale, tenhamos coragem e perseverança para não deixar o sonho do povo da floresta, por conseguinte o sonho de Ir. Dorothy ser esquecido. Também nós somos chamados a ser profetas do nosso tempo! Façamos a nossa parte! Lutemos por uma amazônia viva! Lutemos por uma amazônia livre!
Lutemos por uma amazônia onde reina a justiça e impere a Paz!

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