“Se nos calarmos, até as pedras gritarão!”
Manifesto de cristãos sobre o momento político atual
Somos homens e mulheres, ministros, agentes de pastoral, teólogos, intelectuais e militantes sociais, membros de diferentes Igrejas cristãs. Movidos pela fidelidade à verdade, viemos a público declarar:
1. Nestes dias, circulam pela internet e pela imprensa manifestações de líderes cristãos que, em nome da fé, pedem ao povo que não vote em Dilma Rousseff sob o pretexto de que ela seria favorável ao aborto, ao casamento gay e a outras medidas tidas como “contrárias à moral”. A própria candidata negou a veracidade destas afirmações e se reuniu com lideranças das Igrejas em um positivo diálogo sobre o assunto. Apesar disso, estes boatos e mentiras continuam sendo espalhados. Diante destas posturas autoritárias e mentirosas, disfarçadas sob o uso da boa moral e da fé, nos sentimos obrigados a atualizar a palavra de Jesus, afirmando, agora, diante de todo o Brasil: “se nos calarmos, até as pedras gritarão!” (Lc 19, 40).
Não aceitamos que se use a fé para condenar alguma candidatura. Fazemos esta declaração como cristãos, ligando nossa fé à vida concreta, a partir de uma análise social e política da realidade e não apenas por motivos religiosos ou doutrinais. Em nome do nosso compromisso com o povo brasileiro, declaramos publicamente o nosso voto em Dilma Rousseff e as razões que nos levam a tomar esta atitude:
2. Consideramos que, para o projeto de um Brasil mais justo, mais igualitário e de maior respeito ao planeta Terra, a eleição de Dilma para presidente da República representará um passo maior do que a eventualidade de uma vitória daquele, que, segundo nossa análise, nos levaria a recuar em várias conquistas populares e efetivos ganhos sócio-culturais, econômicos e ecológicos que se destacam na melhoria de vida da população brasileira.
3. Acreditamos que o projeto divino para este mundo foi anunciado através das palavras e ações de Jesus Cristo. Este projeto não se esgota em nenhum regime de governo e não se reduz apenas a uma melhor organização social e política da sociedade. Entretanto, quando oramos “venha o teu reino”, cremos e lutamos , que ele virá, não apenas de forma espiritualista e restrito aos corações, mas, principalmente na transformação das estruturas sociais e políticas injustas deste mundo.
4. Sabemos que as grandes transformações da sociedade se darão principalmente através das mobilizações e conquistas sociais e ambientais, feitas pelo povo organizado e não apenas pelo beneplácito de um governante mais aberto/a ou mais sensível ao povo. Entretanto, por experiência, constatamos: não é a mesma coisa ter um governo que respeite os movimentos populares e dialogue com os segmentos mais pobres da sociedade, ou ter governantes que, diante de uma manifestação popular, mande a polícia reprimir. Neste sentido, tanto no governo federal, como nos estados, as gestões tucanas têm se caracterizado sempre pela arrogância, pela implementação e defesa dos interesses do capital e das políticas neoliberais e pela insensibilidade para com as grandes questões sociais do povo mais empobrecido.
5.Não nos interessa se tal candidato/a é cristão ou não. Como Jesus, cremos que o importante não é tanto dizer “Senhor, Senhor”, mas realizar a vontade de Deus, ou seja, o projeto divino. Esperamos que Dilma continue a feliz política externa do presidente Lula, principalmente no projeto da nossa fundamental integração com os países irmãos da América Latina e na solidariedade aos países africanos, com os quais o Brasil tem uma grande dívida moral e uma longa história em comum. A integração com os movimentos populares emergentes em vários países do continente nos levará a caminharmos para novos e decisivos passos de justiça, igualdade social e cuidado com a natureza, em todas as suas dimensões. Entendemos que um país com desenvolvimento e sustentabilidade, como defende Marina Silva, só pode ser construído resgatando já a enorme dívida social com o seu povo mais empobrecido. Dilma Rousseff representa este projeto iniciado nos oito anos de mandato do presidente Lula.
É isso que este em jogo neste segundo turno das eleições de 2010.
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