quarta-feira, 24 de março de 2010

OU PAGUE O PISO OU PAGUE O PREÇO

Parecer da Procuradoria Geral da República (PGR) considera improcedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4.167) ajuizada pelos governadores do Paraná, Roberto Requião; do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius; de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira; do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli; e do Ceará, Cid Gomes, e destaca que a Lei do Piso é constitucional. Diante da decisão, o processo foi devolvido ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que o relator da ADI, ministro Joaquim Barbosa se pronuncie.

Na opinião do presidente da CNTE, Roberto Leão, a decisão da Procuradoria Geral da República atende à reivindicação da escola pública brasileira. “A PGR está de parabéns por ter compreendido como é importante a existência de uma legislação, como a Lei nº 11.738/2008, que instituiu o Piso Salarial Profissional Nacional (PSPN) para os professores com formação de nível médio”, destaca.

A ADI 4.167
Aprovada pelo Congresso e sancionada pelo presidente Lula em 2008, a Lei do Piso ainda não é cumprida por todos estados e municípios do País. E tudo começou com a ação dos cinco governadores que consideraram a lei inconstitucional e recorreram à Justiça alegando falta de verba para pagar o piso.
Para os governadores, a Lei 11.738 criou “regras desproporcionais” ao vincular o Piso ao vencimento básico de carreira e ao conceder limite máximo de dois terços para a jornada do professor em sala de aula.
A medida cautelar contida na ADI dos cinco governadores foi concedida parcialmente. O Supremo Tribunal Federal considerou a Lei do Piso constitucional, porém limitou sua abrangência até o julgamento do mérito da ação. Como até hoje o STF não decidiu o mérito da questão, muitos gestores públicos se apóiam nessa indecisão.

Razões políticas
Segundo Roberto Leão, “o piso é descumprido por razões políticas, não financeiras, uma vez que o Ministério da Educação tem recursos para socorrer governadores e prefeitos que alegarem não ter recursos para pagar o PSPN", acrescenta.
Leão espera que, agora com o parecer favorável da Procuradoria Geral da República, o Supremo tenha argumentos para opinar a respeito. O relator, ministro Joaquim Barbosa já se pronunciou pela constitucionalidade do piso, mas foi voto vencido.


(Fonte: CNTE - 22/03/10)

O que não é legal é agente continuar continuar mendigando, depois de uma vida toda lutando incansavelmente pelo marco legal (legislação) do nosso piso e os gestores de todos os níveis continuarem a não reconhecer nosso legitimo direito.
Muitas vezes os gestores não se organizam administrativamente para seguir a legislação vigente e outras vezes a maioria alegam (sem recursos) ou que vão estrapolar a LRF (lei de responsabilidade fiscal).
Engraçado para cumprir esta lei (LRF) eles recusam nos pagar, mas cumprir a outra lei (Piso)que vai trazer e garantir melhoria na educação como um todo.
Sendo que na Hierarquia das Leis a Lei do Piso é superior a qualquer outra Lei.
Concluo: OU PAGUE O PISO OU PAGUE O PREÇO

terça-feira, 16 de março de 2010

AS IDEIAS DEMONIACAS DOS DIREITOS HUMANOS

Por Marcelo Salles, 08.01.2010
Fonte: Fazendo Media

Poucas vezes uma iniciativa foi tão atacada pela direita e suas corporações de mídia quanto o Programa Nacional de Direitos Humanos. Mas não sem razão. Uma proposta como, por exemplo, a cobrança de impostos sobre grandes fortunas é realmente de arrepiar os cabelos de quem sempre os deitou sobre a riqueza nacional – ainda que esta medida esteja prevista na Constituição Federal e seja adotada pelos países que mais progrediram no mundo.

Propor um maior controle sobre a esculhambação e as mutretas que envolvem as concessões de rádio e tv só pode ser um escândalo para aqueles que fazem fortuna ao se arvorarem proprietários do espectro eletromagnético que pertence a todo o povo brasileiro.
Fiscalizar os latifúndios num país em que 1% de senhores feudais controla quase metade das terras só pode ser comparado à criação de um “demônio”, no dizer da senadora Kátia Abreu, do DEM, partido que tem suas raízes na golpista UDN.

Deve mesmo ser demoníaca a ideia de garantir direitos aos gays, lésbicas, travestis e toda essa gente que ofende pelo único pecado de ser diferente.
Assim como só pode ser obra do capeta a proposta de ampliar a participação direta do povo via plebiscitos, referendos, leis e vetos populares. Por que as massas deveriam decidir diretamente os seus destinos, se sempre, desde o genocídio inaugural, são vistas como mão-de-obra barata e mal qualificada?

Poucas vezes na história desse país uma iniciativa de um governo foi tão bombardeada pela mídia, tanto em intensidade quanto na sua duração. Há pelo menos 15 dias rádios, jornais e tvs de todo o país partem para o ataque escancarado daqueles que defendem uma proposta democrática para o Brasil.
Para isso, omitem informações, descontextualizam fatos e até mesmo mentem. Um bom exemplo é a surrada versão de que o que se pretende com a Comissão da Verdade é rever a Lei de Anistia. Mentira. O que existe é uma solicitação da OAB ao Supremo Tribunal Federal sobre dispositivos de interpretação contraditória. A Constituição Federal, por exemplo, considera que a prática da tortura não pode ser objeto de graça ou anistia. Tratados internacionais estabelecem que crimes de lesa-humanidade, como a tortura, são imprescritíveis. Comissões de Verdade funcionaram ou funcionam muito bem em outros países, e isto é sistematicamente escondido por meios de comunicação.
Mas não é só isso. O fato de a Secretaria de Direitos Humanos só aparecer nas corporações de mídia nesse contexto é, por si só, bastante revelador dos propósitos das corporações de mídia. É como se não houvesse políticas públicas de defesa dos direitos das crianças e adolescentes, de pessoas com deficiência, idosos, LGBT, além dos programas de proteção a pessoas ameaçadas, combate ao trabalho escravo e até uma Ouvidoria-geral da cidadania. Iniciativas que poderiam ser potencializadas pela visibilidade que lhe negam.
E assim funciona a velha lógica do sistema: os ataques da direita identificam os demônios para que sejam esconjurados por sua mídia. Mas até que isso tem sua serventia. Revela a urgência da democratização dos meios de comunicação de massa e deixa os inimigos da democracia completamente expostos – todos com cara de santo, naturalmente."


Salve a internet!
Que através dela tentamos contribuir para cair a mascara da grande midia.
O maior defensor dos Direitos Humanos foi Jesus Cristo, que não fazia acepção de pessoas, que amava e praticava de verdade amor as protitutas, aos leprosos, aos homicidas, aos ladrões, enfim a todos os excluidos. Por isso que eu amo a Jesus e nem ligo sobre as duras criticas que nos fazem, quando fizemos a opção de caminhar junto com os excluidos.
Irma Beth

domingo, 14 de março de 2010

SERMÃO DA MONTANHA - Versão para Professores(as)

Sermão da Montanha - versão para professores

Naquele tempo, Jesus subiu a um monte seguido pela multidão e, sentado sobre ma grande pedra, deixou que os seus discípulos e seguidores se aproximassem. Ele os preparava para serem os educadores capazes de transmitir a lição da Boa Nova a todos os homens.
Tomando a palavra, disse-lhes:- “Em verdade, em verdade vos digo: Felizes os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Felizes os misericordiosos, porque eles...”

Pedro o interrompeu:- Mestre, vamos ter que saber isso de cor?

André disse:- É pra copiar no caderno?

Filipe lamentou-se:- Esqueci meu papiro!

Bartolomeu quis saber:- Vai cair na prova?

João levantou a mão:- Posso ir ao banheiro?

Judas Iscariotes resmungou:- O que é que a gente vai ganhar com isso?

Judas Tadeu defendeu-se:- Foi o outro Judas que perguntou!

Tomé questionou:- Tem uma fórmula pra provar que isso tá certo?

Tiago Maior indagou:- Vai valer nota?

Tiago Menor reclamou:- Não ouvi nada, com esse grandão na minha frente.

Simão Zelote gritou, nervoso:- Mas porque é que não dá logo a resposta e pronto!?

Mateus queixou-se:- Eu não entendi nada, ninguém entendeu nada!

Um dos fariseus, que nunca tinha estado diante de uma multidão nem ensinado nada a ninguém, tomou a palavra e dirigiu-se a Jesus, dizendo:- Isso que o senhor está fazendo é uma aula? Onde está o seu plano de curso e a avaliação diagnóstica? Quais são os objetivos gerais e específicos? Quais são as suas estratégias para recuperação dos conhecimentos prévios?

Caifás emendou:- Fez uma programação que inclua os temas transversais e atividades integradoras com outras disciplinas? E os espaços para incluir os parâmetros curriculares gerais? Elaborou os conteúdos conceituais, processuais e atitudinais?

Pilatos, sentado lá no fundão, disse a Jesus:- Quero ver as avaliações da primeira, segunda e terceira etapas e reservo-me o direito de, ao final, aumentar as notas dos seus discípulos para que se cumpram as promessas do Imperador de um ensino de qualidade. Nem pensar em números e estatísticas que coloquem em dúvida a eficácia do nosso projeto.- E vê lá se não vai reprovar alguém! Lembre-se que você ainda não é professor titular...

Jesus deu um suspiro profundo, pensou em ir à sinagoga e pedir aposentadoria proporcional aos trinta e três anos. Mas, tendo em vista o fator previdenciário e a regra dos 95, desistiu.
Pensou em pegar um empréstimo consignado com Zaqueu, voltar pra Nazaré e montar uma padaria...
Mas olhou de novo a multidão. Eram como ovelhas sem pastor... Seu coração de educador se enterneceu e Ele continuou:-“Felizes vocês, se forem desrespeitados e perseguidos, se disserem mentiras contra vocês por causa da Educação. Fiquem alegres e contentes, porque será grande a recompensa no céu. Do mesmo modo perseguiram outros educadores que vieram antes de vocês”.

Tomé, sempre resmungão, reclamou:- Mas só no céu, Senhor?

- Tem razão, Tomé - disse Jesus - há quem queira transformar minhas palavras em conformismo e alienação.. Eu lhes digo, NÃO! Não se acomodem. Não fiquem esperando, de braços cruzados, uma recompensa do além. É preciso construir o paraíso aqui e agora, para merecer o que vem depois...

E Jesus concluiu:- Vocês, meus queridos educadores, são o sal da terra e a luz do mundo...

Texto de abertura do Programa Rádio Vivo — Rádio Itatiaia, Belo Horizonte — de 15/10/2009, texto do professor Eduardo Machado.

terça-feira, 9 de março de 2010

'UMA HOMENAGEM QUE NUNCA RECEBI'


Esta foi a frase mais impactante que ouvi ontem de uma das recuperandas que dizia:
- Tenho 39 anos e isso nunca aconteceu antes em toda
a minha vida.
A programação do Dia Internacional da MULHER, no presidio de Cataguases, foi intensa.
08:30 - Conversa com a Medica Ginecologista Dra. Maria Beatriz Freire, muitas duvidas foram esclarecidas com a competencia e experiencia de longos anos a serviço da Saúde da MUlher.
10:00hs - Aquele lanche especial.
10:10 - Aula de artesanatos em chinelos, cada um confeccionou o seu, esnobram criatividade e bom gosto, com a orientação da professora D.Gracinha.
12:30 - Almoço
13:00 - Uma palavra e muitas mensagens sobre o "Desafio de ser Mulher" que eu preparei.
14:00 - Outro lanche especial.
14:30 - Inicio da "Transformação" realizada pelas alunas da Escola de Cabeleireira da Eliana no Bairro Haidee.
17:00 - Culto em Ação de Graça dirigido pela Igreja Evangelica Reina e a ministração da palavra pela Pra. Hideilde da Igreja Metodista e não podia faltar o louvor pela banda Restauração do Presidio de Cataguases.
Houve um quebrantamento geral durante o culto, a cada apresentação do grupo de coreografia, dos hinos, do testemunho da recuperanda Priscila, que disse:
- Quando poderiamos imaginar que um dia isso estivesse acontecendo aqui nesta cadeia cheia de guerras, odios e violencias, e agora após a chegada do nosso "anjo da guarda" Sr. Carlos diretor do presidio tudo mudou para melhor.
E hoje durante a minha aula, perguntei aos alunos o que eles acharam, eles diziam que choraram muito, que ficavam arrepiados de emoção e que jamais podiam imaginar tamanha felicidade de espirito dentro "daquele lugar".
OBS. Gostaria de agradecer:
- Primeiro lugar a Deus que abriu todas estas portas e nos deu Vitória.
- Sr. Carlos e Sr. Laercio diretores do Presidio e todo o seu pessoal de apoio, sem eles nada disso aconteceria.
- Maria da Gloria do Jornal Recomeço, pelo constante apoio.
-D. Gracinha pela sua abnegação e disprendimento na arte de ensinar fazer arte e amar a causa.
- Dra. Beatriz pelo seu pronto atendimento e dedicação a saúde da mulher.
- Alunas da Escola de Cabeleireira da Eliana, que provaram ser as melhores.
- Pastora Hideide esposa do Pastor Otavio da Igreja Metodista de Cataguases.
- Pastora Maria Opala e seu esposo da Igreja Reina e a todos os que vieram louvar e orar.


sábado, 6 de março de 2010

VIVA AS MULHERES - 100 anos do 08 de março.

NA LUTA COMEMORAMOS OS 100 ANOS DO 8 DE MARÇO

Há 100 anos, Clara Zetkin, dirigente do Partido Social Democrata Alemão, viu aprovada sua proposta de instaurar o 8 de março como Dia Internacional das Mulheres. Essa referência histórica, por si só, já seria suficiente para demarcar a data com seu sentido principal: a luta. Foi nesse caminho que as mulheres foram para as ruas em todas as partes do mundo, inúmeras vezes: pelo direito ao voto, a salários iguais, para denunciar a violência cotidiana a que são submetidas, desde a humilhação doméstica à mais brutal violência física.

Em um país com uma das piores desigualdades sociais do mundo, com concentração de terra, renda e poder não mãos de uma elite, marcado profundamente pelo latifúndio e pela exploração imperialista, os impactos recaem fortemente sobre as mulheres. De acordo com uma pesquisa da UFRJ, 80% do total de pessoas sem acesso à renda no Brasil são mulheres. E são elas majoritariamente que são submetidas a jornadas duplas ou triplas de trabalho, encarado muitas vezes como “ajuda” e sem remuneração.

No campo, essa realidade fica ainda mais marcante. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), somente 1% das propriedades rurais do mundo estão em nome de mulheres. E na Reforma Agrária também o índice é baixo: menos de 15% das terras são registradas em nome de mulheres. Cerca de 6,5 milhões de agricultoras são analfabetas. O modelo de produção priorizado pelo Estado brasileiro – revelado com detalhes pelo último Censo Agropecuário – faz com que existam 15 milhões de sem-terra no país. Destes, no mínimo, 50% são mulheres. Por trás do grande número de pessoas sem acesso à terra, um dado do Censo expressa a contradição: apenas 1% dos proprietários de terras no Brasil detém 46% do território agricultável.

O agronegócio – que recebe a maior parte dos investimentos públicos para a produção – acumula mais um vergonhoso título para o Brasil. Depois de ser o principal consumidor de agrotóxicos, é agora o segundo país do mundo em área cultivada de transgênicos. Enquanto os países desenvolvidos seguem o caminho inverso, preocupando-se com a qualidade da alimentação, nossa população precisa se envenenar para garantir os lucros das transnacionais. Isso porque tentaram convencer o mundo que os transgênicos acabariam com a necessidade de pesticidas. Então como entender essa imensa quantidade de venenos para manter a produção transgênica? O Censo demonstrou que quase 80% dos proprietários rurais usam agrotóxico, muito mais do que o necessário. O imenso volume de herbicidas aplicados no Brasil contamina os solos, os mananciais e até mesmo o aqüífero Guarani. A contaminação chega até nós pela água que bebemos e pelos produtos agrícolas irrigados com a água contaminada.

Não faltam dados que comprovam os malefícios sobre a saúde humana dos agrotóxicos e dos transgênicos, muitas vezes sobre a mulher, como a contaminação do leite materno e impactos na fertilidade. Mas nada disso é motivo para o perverso modelo do agronegócio deixar de seguir seu rumo.

E por isso as mulheres camponesas se mobilizam, enfrentam a opressão e a exploração. Não aceitamos o silêncio. Todos os anos, assumimos a responsabilidade histórica legada pelas socialistas. Neste ano, nos organizamos na Jornada de Luta contra o Agronegócio e contra a Violência: por Reforma Agrária e Soberania Alimentar. Vamos para as ruas em todo o país colocar para a sociedade nosso projeto, nossa alternativa pela saúde, pela autonomia, pela igualdade, pelo fim da exploração. Nos somamos com as mulheres das cidades, que também travam há décadas lutas fundamentais para toda a sociedade brasileira. Sabemos que é este o único caminho possível para conquistar nossos direitos.
RECEBIDO DE: letraviva@mst.org.br

segunda-feira, 1 de março de 2010

OS LIMITES DO NOVO CENSO AGROPECUÁRIO

www.correiocidadani a.com.br/ content/view/ 4312/9/ 10-02-2010

--Os limites do novo censo agropecuário
Escrito por Ariovaldo Umbelino



Estado brasileiro não tem controle algum sobre seu território, aliás,nunca teve. O Incra deveria fazer periodicamente o recadastramento dosimóveis, mas não faz. O último foi feito em 1992 e atualizado em 1998.Nem os órgãos públicos nem os cartórios de registro de imóveis, ou seja,ninguém neste país é capaz de informar a parte das terras ocupadas legalmente e ilegalmente, ou melhor, as griladas. Nem mesmo o Estado é capaz de informar o total das terras públicas devolutas ou não.

Nunca um censo foi realizado no Brasil com tanta tecnologia avançada disponível. Tudo foi feito para que os resultados viessem a público rapidamente. Projetou-se um censo a fim de ser instrumento para o país conhecer o campo e planejar seu futuro. Entretanto, junto com os instrumentos digitais de coleta de dados, vieram os erros. Erros grosseiros que levaram o IBGE a adiar a divulgação, inclusive dosresultados preliminares, que foram muito mais dados da produção agrícolae pecuária municipal do que resultados efetivos do Censo 2006.

A análise geral do Censo Agropecuário 2006 revela três questões principais. Pela primeira vez, o IBGE se deu ao trabalho de comparar seus dados àqueles do Incra e mostrar suas diferenças conceituais das unidades estatísticas fundantes: estabelecimentos e imóveis.

O censo apresentou dados relativos ao conjunto do território brasileiro em hectares:
área territorial total do país: 851,4 milhões;
área total ocupada pelos estabelecimentos: 330 milhões;
área total das terras indígenas: 126 milhões;
área total das unidades de conservação ambiental: 72,3 milhões;
área com corpos d?água: 12 milhões;
eárea urbanizada: 2,1 milhões.
Mas a conta não fechou, ou seja, ficaram sobrando 309 milhões dehectares.

A solução adotada pelos técnicos do IBGE foi denominar esses 36% dasuperfície do país de "área com outras ocupações". No entanto, se elesincluíram todas as possibilidades de ocupação de fato, ficou faltando as"terras públicas devolutas". É isto mesmo: mais de um terço da área dopaís está cercada, mas não pertence a quem cercou. Os "proprietários"não têm os documentos legais de propriedade destas terras. Por isso,essas terras são omitidas nos levantamentos estatísticos tanto do IBGE como do Incra.

A segunda questão envolve o volume especial sobre a denominada"agricultura familiar". Essa conceituação tem sua origem no neoliberalismo. Nasceu com a intenção de apagar da memória e da história o conceito de camponês e o campesinato como sujeito social revolucionário do século XX. A função política desse volume é induzir a análise do campo pela lógica neoliberal, que esconde a dimensão dos estabelecimentos e, portanto, os indicativos analíticos da concentrada estrutura fundiária do país. Seu alvo preferencial são os movimentos sócio-territoriais em luta pela terra. Visou assim, retirar o seu mais potente elemento revelador da desigual distribuição da terra no Brasil.Foi transferida para as estatísticas a opção ideológica feita pelogoverno atual. Nada contra o estudo em si, pois ele é legitimo. Aquestão está em torná-lo um volume do Censo 2006.

A terceira questão sinaliza a incômoda destruição gradativa do único instrumento estatístico de série histórica longa, que o país dispõe para conhecer sua realidade agrária. Basta comparar o volume de 2006 com o de 1995/1996, para ver que os técnicos atuais do IBGE sequer zelaram pela herança deixada pelos seus antecessores.

Um censo é um instrumento estatístico, por isso tem que sempre ampliaras possibilidades de desagregação dos dados, e não o contrário. Os técnicos do IBGE trataram de esconder ao máximo possível os dados da estrutura fundiária, particularmente as variáveis por estratos de área total. Ampliaram o que é positivo, a estratificação dos minifúndios, mas zelosamente agregaram os dados dos grandes estabelecimentos escondendo os latifúndios.

Ou seja, os estratos de área maiores chegavam a até 100.000 hectares nocenso de 1995/1996. Foi reduzido para 2.500 hectares e mais. Foi uma nocravo e outra na ferradura. Deixaram também de divulgar a produção devários produtos agrícolas por estrato de área total. Assim, impediramque se pudessem fazer estudos segundo esse critério, que revela ocaráter da propriedade privada da terra, exceto se os interessadosresolverem comprar os dados.

Sempre dominou no campo brasileiro o princípio da ilegalidade da ocupação das terras públicas pelos latifundiários. . São esses 309 milhõesde hectares de terras públicas devolutas ou não que somados aos 120 milhões de hectares de terras improdutivas dos grandes imóveis indicadas no primeiro documento do 2º Plano Nacional de Reforma Agrária (2003) que os sem terras não se cansam de denunciar. É por isso que os latifundiários travam combate sem trégua com os sem terras. E a maior parte da mídia acompanha e faz eco, mas os dados demonstram que a história está do outro lado, do lado dos sem terras.

Ariovaldo Umbelino é professor titular de Geografia Agrária daFFLCH-USP.